sexta-feira, 20 de maio de 2011

Preconceito Linguístico


Mito : "Brasileiro não sabe português/Só em Portugal se fala bem português"


As línguas são diferentes. Elas sofrem variações diacrônicas (conforme a época), diatópicas (conforme o lugar), diastráticas (conforme a classe social ou especialização dos falantes) e ainda conforme a situação (formal ou informal).
Apesar de tudo isso, se a língua estabelecer um canal de comunicação entre os falantes, ela já desempenhou o seu papel. E eu até poderia terminar esse texto por aqui.
Mas eu preciso dizer que, a mania quase doentia que o brasileiro tem de se diminuir perante o resto do mundo, dá origem a mais esse mito sobre a língua. Só em Portugal se fala português corretamente.
Meus amigos, nós somos sim uma antiga colônia de Portugal, mas um abismo lingüístico de 500 anos de evolução e quase um século de independência separa nossas línguas.
Diante disso, eu pergunto: por que as pessoas ainda insistem em dizer que os portugueses são os verdadeiros “donos” da língua? Por que uma língua independente, com sua própria gramática e regras, como o português brasileiro, continua a ser vista como inferior à outra?
Me digam se isso acontece com o inglês americano? Afinal, eles também foram colônia da Inglaterra. Por que o inglês da Inglaterra não é muito mais bonito que o inglês americano?

O português de Portugal é diferente do português do Brasil, assim como o português do Cabo Verde é diferente do português de Moçambique, e não é nenhum acordo lingüístico que vai mudar isso. Estamos falando de culturas diferentes, de povos diferentes e de situações sociais diferentes. Os brasileiros pensam que o único português bem falado é em Portugal, mas isto é apenas complexo de inferioridade por saber que o Brasil já foi uma colônia dominada por Portugal. Mas nós sabemos português sim, apenas falamos de um jeito diferente do deles.

A cada dia o português falado no Brasil sofre transformações que cada vez mais se diferencia do português de Portugal. Na língua falada as diferenças são tão grandes que às vezes há problemas de compreensão, o único modo de o nosso português ser parecido com o deles é na escrita, pois são muito parecidas, quase iguais.

A gramática (ou os gramáticos) só precisam entender que frases como “Você viu ela chegar” ou “Eu conheço ele”, são construções totalmente comuns ao português brasileiro. A um falante — ou mais ainda, a um aluno — não devem ser impostas regras que simplesmente não fazem parte da realidade de NENHUM usuário da língua, portanto, totalmente artificiais, numa tentativa inútil de fazer nações que estão a 10.000 quilômetros de distância, falarem exatamente do mesmo jeito. Então não podemos dizer que existe um português mais errado ou mais feio, são apenas modos diferentes que se adequa às necessidades lingüísticas de cada país, onde tais necessidades são diferentes.